segunda-feira, 2 de março de 2009

O ERRANTE

Por um erro me fiz errante
Mais errante que o erro do errado
Mil tropeços no meu passado
Os infernantes constando
Dos meus retalhos

Sem dúvidas, com mágoas
Meu sorriso pichado
Ó triste dor tão infinita,
Não me inflame agora

Não me deixe ser um errante
O mesmo que ontem amava
Nas curvas de um delirante.

Um errado errante
Um facínora
Um desamante

Tantos sonhos refeitos
Tantos tombos levados...

Viver numa clausura com incúria
Tamanha fera qual a rua desabitada
Nos degraus de uma ponte pitoresca?
Na esquina de um velho sobrado?

Não importa,
É um errado,
Um errante de sonhos mutilados
Pelo poder da censura

Pelo beijo que faltou
De dois namorados
Tombos e mais tombos
Por cima de tombos

A angústia ainda rígida
De desejos espuriantes
Retalhos na lembrança
De um poeta vacilante.

Talentos desvalidos
De um filho pródigo ferido
O erro maior que o poema
Nos olhos de quem o ler, será?
Nem tratos nem súplicas
Impedirão todo o refúgio,
Nem o erro nem o errado
Detestará todo o cansaço

Os sentidos embora incendiados
Evocarão sem dó e piedadade
Os tristes fins dos irmãos mutilados
Quebrando as asas insultando a liberdade

Nem ternura fará
Erro regenerar-se
As febris dolências findarem-se
Por encanto nem desalento...

Cicatrizes de um corpo errante
Embora a ferida ainda viva
Debaixo dos seus sentimentos
Na fuga de um céu azul regente...

A fé lavada por dois, três tormentos
Quantas mentiras soltas nos becos,
Quantas revelações de hipocrisia

Tantos foram os secos beijos,
Um errante no mundo de mil fantasias...

Um árduo clamor no campo da vida,
A ciência labutando
O suor do corpo errante
Pergunto ao todo único:
Que rumo tomará este homem desvalido?
Que estranhas coincidências
Tornar-se-ão constantes,
Por quê?

São sete dias e sete horas
De perguntas e cansaço
Deste antigo cangaço
Trate logo de me dizer
O que há por trás deste fracasso...

Reminiscências vagas e profundas
Cortando-me pela ira manipulada,
Por medo e por elucubrações
Calo nos meus pés descalços
Por maldosa estrada...

Sepulta este silêncio de dúvidas
ressuscita todos os tempos perdidos
Respalda as coisas incubidas.

Por seis tombos levados
Não tardará minha queda,
Do mais alto penhasco de torturas
Ao mais extenso mar de lágrimas...

Será profano meu mundo, qual me entristece
Após tantos tropeços e finos sacrilégios

Ainda não esqueci
Os difíceis momentos
E noites de insônia
Eu tentando corrigir um erro
Sentindo o reencontro de outros...
Assegurando-me fortemente nas letras
De uma poetisa risonha, a noite
Na mesa de anfitriões dividindo a ceia

Eu sentindo a dor de um erro
Maior que minha existência
Tudo é tortura, e só fadiga (parece ser).

Uma flor de pétalas queimadas
Pelo poder daciência
É coisa vaga e difícil
De tentar esquecer...

Afoga-me agora, com teus três poderes
Suplico por todos os erros por mim cometidos
Imploro por todos os olhares e bater de pestanas.
Elimina meu todo cansaço e deixa-me
Quieto, por dois mil anos
(E só...)

E ainda que eu cometa um erro
Que eu toque em tua face
Com minhas mãos sôfregas
E meu sorriso pichado,
Revestirei-me da mais pura inocência

Agora já não tenho tanto a te declarar
Dos meus tropeços e soluços
Por mil sonhos de erros que fui censurado,
Pelo poder da vida lá fora
Fruto que a sociedade produz...

É torpor, é agonia
É a ânsia de querer estar contigo
Por dois mil anos e nada mais...

Sinto que alguém
Vê da janela do mundo
Uma vida repartida:
De um lado escrupulosa,
De outro, sangüinária.

São sentimentos sentenciados
Por dor de ida e vinda.

Quem será o precursor nessa janela?
Quem há de fitar minhas pernas combalidas?
Terá lembranças do meu passado?

Com cento e vinte segundos
Entenderá todos os erros
Por mim cometidos.

Interpretarará minhas orações poéticas
No meu corpo sudoríparo inconsumado

Não julgará
Minhas súplicas proféticas
Entenderá meu entender julgado

Ainda hei de sorrir
Com um semblante mais brando

Hei de reviver o melhor
De minha juventude voraz
Sorrindo... Amando... Amando...

Hei de tocar a flor
Sem despetalá-la
Nem curvar o então amor
Nem fazer de um exílio um ermo

(Que profecias são estas?)

São sete dias e sete horas
De perguntas e cansaço
Deste antigo cangaço
Trate logo de me dizer
(O que há por trás do meu fracasso)

Se não sou o fracasso
Se não és a força maior
Então digo:
Somos dois errantes

No ontem distante
Na mente e no solo
Nos olhos que se perdem avante
Nas lágrimas que derramam no colo...

Afeta-me agora, brisa que passa embarcada
Sol que passa ofuscante sobre meus erros
Libertem-me deste mundo
E deixem-me seguir outra estrada...

Aqui o povo anda perdido
Por um quinhão de cruzados

Aflito, reflito nas cinzas e nada encontro

Meu poema é meu chão
A ele entrego o erro humano.
Por ele peço perdão... (!!!)

Perdi-me na opulência
Deixei amarga a saliva doce
(apenas no meu relato)

A ti entrego todas as inspirações concedidas

E não vem a mim com teu Islã
Com teu feitiço melancólico
Não me leve às tuas dúvidas
Não me ilude com a arte gótica.

Estamos em um sagrado vulto decadente
Ânsias inquietantes
Um estopim que se queima urgente
Na fronteira da vida arbitrária

Sei que não sou um Chacal
Em chagas renuncio
Os sinais vermelhos
Causados pelo erro
E cicatrizados prlo errante em trevas.

Mas ainda virá luz
Por um tirano que sepultou o amor
Antes do ano dois mil...
(Será)

Pés alheios não calejam
Nem o tempo permite.

Beijemos a criança raquítica
Amparemos o amor exilado
Plantemos nossa flor típica
Consolidemos o menor angustiado

Ainda em terra, no chão que piso
Pois já já resta de um menino o riso
A outra parte é concreto e fezes...

Meu caos, minha prisão
Parte da vida é muda
Outra parte produção
Crendice, doença aguda

Resto é morte, outro resto chacina
A natureza é traída
Pelo filho da mãe que se aninha.

Favela é fim de mundo
Jardim, artifício

O erro estána cara
É coisa crua encarcerada
É a palavra trocada
É o passado esquecido

É meu eco que explode
Nas volúpias dos dias

Verdadeiro caos me domina agora
Só me resta a poesia,
Que eu me permito chamar

A vida se agita, o coração logo chora
Só me restam agora, as antigas dunas do mar...

( WILLIAM, C. O ERRANTE. São Luís: 1988, ed. do autor. 72p)

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